Sobre a carta divulgada pela FENAN (Federação Nacional dos Médicos)

2.10.14 1 Comments A+ a-

A Federação Nacional dos Médicos (FENAM) divulgou ontem uma carta com o seguinte título:
>> CONDUTA OBSTÉTRICA NÃO PODE SER CONFUNDIDA COM VIOLÊNCIA! <<
Seguem algumas considerações minhas à respeito:

"... fazer parto sem analgesia ou anestesia, transformando o ato do nascimento num mar de gritos e choro, num retrocesso à era pré-industrial."
FENAN... meu choro e meus gritos te incomodam?

"... não usar os recursos técnicos disponíveis, permitindo lacerações e hemorragias que comprometerão a saúde da mulher!"
FENAN... o que está me sugerindo? Uma episiotomia? Me achas incapaz?

"Não se pode confundir conduta obstétrica com violência!"
FENAN... não existe confusão nenhuma aqui. 

Eu sou uma gestante de risco habitual e eu tenho o direito de escolher onde e como parir, de parir sem analgesia ou anestesia, de gritar e chorar se me der vontade, tenho o direito de escolher se quero ou não ser cortada, tenho direito de escolher quem me acompanhará em meu parto, tenho direito a privacidade, tenho o direito de permanecer em contato direto e imediato com meu filho(a) logo que ele(a) nascer... eu tenho muitos direitos e os médicos que assinam embaixo dessa sua carta não vão me tirar nenhum deles.
As falhas na infra-estrutura na saúde são parte do problema sim. Mas quem me trata mal no hospital, quem me recebe com ironia, quem não respeita minhas vontades e meus direitos, quem não consegue ver violência em nada disso, é o médico que assina embaixo nessa carta.
Não tente mascarar sua culpa, estude e melhore o seu procedimento, respeite as gestantes, ajude no que for realmente necessário, atualize-se. 
Quando falamos em violência obstétrica sabemos exatamente na pele e na alma de quem está a cicatriz. Não queira nos enganar, sabemos nossos direitos, suas falácias serão em vão. 
Reavalie a sua má conduta obstétrica!
O fato de a tecnologia existir não deve servir pra anular todo o conhecimento humano adquirido previamente... isso é de uma pobreza intelectual indescritível. 
Na "era pré-industrial" sabíamos parir, e não importa o que você nos diga, continuamos sabendo e gostando de parir. 
Nos deixem parir em paz.
Grata!

Camila Lima.
Mestre em Geografia, Doula, Mulher e Mãe. Dona de uma cicatriz adquirida em uma cesárea desnecessária. Dona de um atual conhecimento suficiente para ter parido minha segunda filha em casa e com respeito. Gestante e guerreira! Incansável...

#NãoMexaComMeusDireitos
#NinguémMeCala

1 comentários:

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2 de outubro de 2014 às 18:13 delete

É isso mesmo! Queremos parir em paz. Gritando e chorando se der vontade. E negando todo e qualquer procedimento que queiram nos impor. O corpo é nosso!

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