Eu sou doula vó... -Dou o quê?!

5.10.15 0 Comments A+ a-


Olá gente, tudo bem!?
Hoje eu queria convidar vocês pra uma reflexão, eu vou trazer para esse post o meu exemplo de vida, mas queria que vocês fizessem a mesma reflexão a respeito da vida de vocês.
Eu tenho tido conversas longas comigo mesma a respeito dos porquês! Porque as pessoas fazem o que elas fazem? Quais os motivos? O que está envolvido nessas decisões que muitas vezes são decisões para uma vida inteira? As pessoas estão vivendo a vida que vieram pra viver?

Trazendo essas questões pra minha vida, vou contar a vocês um pouco da minha trajetória... ou "como vim parar aqui'?

Eu venho de uma família onde a estabilidade financeira é um valor muito importante, onde o arriscar é um verbo muito raro e onde ser 'diferente' as vezes (geralmente) pode ser visto como um fracasso. Tenho pai e mãe hoje aposentados, mas que foram funcionários públicos a vida inteira, tive uma vida confortável, estudei em ótimos colégios, fui cercada de mimos e privilégios. Entrei pra Universidade Federal de Pernambuco, e embora só isso já seja um sonho pra muita gente, pra minha mãe era apenas 'minha obrigação'. Meu desconforto já começou quando eu entrei pro curso de Geografia, é, isso mesmo, a doula aqui é Geógrafa. Só o curso que eu escolhi, pra ela (minha mãe) já foi motivo suficiente para me eleger como 'o fracasso' da casa. Okay, tudo bem, lidei com isso. Concluí o curso, entrei pro Mestrado, concluí o mestrado. Em nenhum momento ninguém me perguntou se era aquilo mesmo que eu queria fazer, mas eu era bolsista, tinha aquela certa (e falsa) estabilidade (financeira) momentânea, e isso silenciou as pessoas que falavam demais, a bolsa me dava paz, não só pelo lado financeiro, mas paz aos ouvidos, pois comprou o silêncio de quem cuidava minha vida. Embora a Geografia fosse vista como o meu fracasso (que aliás, não é), ninguém perguntou se eu era feliz, pois como eu era bolsista, se eu tinha grana no bolso, logo, eu era feliz... pra algumas pessoas é automática essa relação... mas ó, não é bem assim tá gente, não é mesmo! O que tem de tão errado na minha família então? NADA... absolutamente nada! Eles só tem uma visão da vida que não me serve, só.

Ser Mestre em Geografia não diz nada sobre mim, nada. E o problema está longe da Geografia, aliás, a Geografia é linda, é cheia de amor pra dar, e eu adoro sim... mas daí a viver (d)isso, não era bem o que eu queria pra minha vida! Pois é... nesse ponto eu já era Mestre na coisa e nem sabia o porque de estar fazendo aquilo, eu sentei ali na minha zona de conforto e fiquei, pois ali eu estava estável, e como eu falei, esse era um valor importante pra minha família, e eu cuidei desse valor com carinho até o dia que eu pensei... "hmmm... legal, tô com grana, carreira se estabelecendo, mas... não tô feliz, deve ter algo errado nisso aê!".

Algo errado? Gendocééuuu... eu vivia a vida de outra pessoa, essa é minha impressão analisando hoje friamente. Eu me sentia no modo automático, eu vivi a 'pilha' da estabilidade, acreditei nela, mas sabe-se lá porque nada (NADA) daquilo fazia sentido pra mim. "O que tem de errado em querer ser estável Camila?" Nadica de nada, sério, nada mesmo, desde que faça sentido pra você! Aliás, quantos de vocês sabiam que eu sou Geógrafa? Poucos creio eu, e é exatamente por isso, porque não fazia o menor sentido "eu lá"!!!

Maaas, se eu não enxergava a Geografia como um fim, comecei a tratá-la como um meio, abri meus olhos pras oportunidades de sair 'dali'. Eu viajei muito durante o curso, e as coisas que eu fazia/sentia/pensava durante essas viagens não eram coisas de alguém que valorize minimamente a tal  da estabilidade. Eu pensava em correr o mundo, viver de artesanato, dançar... sei lá.. eu pensava muita coisa e nenhuma delas eu me via fazendo, porque né, eu teria que por de lado minha 'estabilidade'... e como minha mãe ia encarar isso? E como minha família ia entender? Eu chegava a escutar a voz da minha vó "Vai viver de luz!?"

Respirei fundo, fugi.

Vó, Mãe, eu e a Caçula Dandara
Saí da minha tão fofinha e aparentemente estável zona de conforto. Fui dar um rolé pra descobrir, longe dos olhares que me cuidavam e me mantinham na minha bolha, quem sou eu? O que eu quero pra mim? Fui atravessar pontes que nunca me foram permitidas... amei o outro lado... queimei as pontes.

Não preciso dizer que a carreira acadêmia que estava sendo construída por mim sabe-se lá porque foi abandonada né. Sim, foi a primeira coisa que eu deixei lá, na minha bolha. Eu bradava aos 4 ventos que queria ser livre e independente e adivinha só... casei. <3 Eu prometi pra mim que não ficaria mais 'desconfortável' com nenhuma situação, tipo, vou ser feliz, não sei o que vou fazer, mas vou ser feliz.

"Ta pensando que amor enche barriga?!" - É... minha avó novamente.
"Feliz aniversário, que Deus te dê um emprego estável, um marido rico e juízo!" - Sim... ela novamente... eu juro que ouvi isso a minha vida toda, em todos os meus aniversários. Aliás, a parte do emprego e do juízo seguem até hoje... rsrs Te amo vó! <3

Olha, ser criada por quem tem a estabilidade financeira como um valor (fooorte) e não lutar arduamente por isso, é uma novela gente, é passar a vida sendo chamada de louca, de irresponsável, de inconsequente e outros apelidos carinhosos que conquistei durante a vida, maaas... começar a viver a vida que veio pra viver, ser feliz e realizada com isso, e ouvir esses mesmos 'elogios' das mesmas pessoas, entendendo que é só uma questão de pontos de vista, de divergência de valores, de foco, tem lá um gostinho especial sabe. Antes eu ficava tri braba quando me chamavam dessas coisas, hoje eu dou risada porque sei que, eles não entendem, é só isso. Não tem nada de errado com eles... nem comigo... apenas pensamos diferente e somos felizes assim.

Bom... e como eu descobri o que raio eu vim fazer aqui nesse planeta?

Sensação de felicidade extrema e tranquilidade na pisada, é o que acontece quando achamos nosso propósito de vida. Passei um tempo caindo no papo do Zeca Pagodinho... "Deixa a vida me levar...", mas agora acabou. Tenho 3 filhas e o nascimento da Anahi, minha filha do meio, me fez entrar em contato com algo pelo qual eu quero lutar o resto da minha vida. Para desespero de geral da minha família (tá, não são todos, assumidamente não ao menos rsrs), a inconsequente que vos escreve é muitíssimo feliz sendo Doula!

Matéria da Revista Donna/ZH. "Vóóó, tô no Jornal vóóó!!! rsrsrs
"Dou o que!?" - Vó! <3 rsrs

Dou amor vó... dou atenção, cuidado, respeito... dou informação, colo, massagem... dou força, dou eu... me dôo!!! Sou doula vó, não fiz concurso público, não tenho essa tal famigerada estabilidade, vivo no embalo dos partos que atendo, as vezes tem, as vezes não tem... é como onda... é como contração... é minha vida! É assim que eu sou feliz, é disso que eu vivo, é pra isso que me dedico e é isso que vim fazer nesse mundo! É ser doula que faz meu coração disparar... é ser doula que me faz chorar a cada parto... é ser doula que me faz sentir viva, e cada bebê que chega, eu me renovo, minhas esperanças aumentam, minha felicidade chega no topo.

"Mas da pra viver disso Camila!?"
kkkkkkkkkkkkk ... ei, olha pra mim, o que não dá é pra EU viver sem isso! <3

E você aí, tá vivendo a vida que veio pra viver?
=)

Beijocas! ;)