Intervenções médicas e rotina hospitalar na atenção ao parto no Brasil
À
medida que sua barriga cresce você começa a sentir seu bebê e então já é
impossível não passar horas imaginando como será o dia do seu parto?
Criar imagens positivas em sua mente pode ser muito importante para preparar-se mentalmente para o grande evento, mas não é só isso!
Planejar o parto é fundamental, inclusive redigindo suas preferências, mas não há como prever o que realmente vai acontecer no dia. Por isso, quanto mais informada, mais preparada estará para as possíveis intervenções que ocorram.
No
Brasil, a maioria dos partos ocorre em ambiente hospitalar, onde há
maior disponibilidade de recursos médicos para lidar com complicações,
assim como anestésicos e outras drogas, mas também há protocolos rígidos a serem seguidos.
Desta
forma é importante ter uma visão realista e informada sobre a conduta
hospitalar, os procedimentos médicos de rotina, as instalações para o
parto, etc.
Uma visita à maternidade a
deixará mais segura e familiarizada com o ambiente, o que importante
para o bom desenvolvimento do trabalho de parto. Muitas maternidades
dispõem, inclusive, de cursos para os futuros pais. Verifique se a sua
maternidade oferece este serviço, agende uma visita e vá pronta para
tirar todas as suas dúvidas.
Conheça aqui alguns dos procedimentos médicos de rotina na maioria dos hospitais brasileiros.
Internação
– Esta é a parte burocrática em relação à prestação do serviço
hospitalar. Geralmente se apresenta uma carta de internação, fornecida
pelo médico, preenche uma ficha, apresenta os documentos, carteirinha do
convênio e assina o contrato. Se estiver em trabalho de parto tenha em
mente que pode demorar alguns (ou vários) minutos para ser admitida pela
enfermagem, a não ser que já esteja com trabalho de parto muito
avançado. E, é claro, se o parceiro estiver junto, ele pode ficar
responsável por esta parte!
Quando
admitida pela enfermagem, você é encaminhada a uma sala, onde deve
despir-se completamente, tirando inclusive óculos e brincos, guardando
todos os seus pertences em uma sacola e vestir um avental.
Monitoramento materno –
No momento da admissão os sinais vitais (frequência cardíaca, pressão
arterial e temperatura) são verificados, enquanto a enfermeira faz
perguntas sobre sua condição de saúde e progresso do trabalho de parto.
Exame de toque –
Exame intravaginal realizado para verificar a qualidade e o progresso
da dilatação do colo uterino. Não há indicação para exames de toque
repetitivos e por diferentes profissionais.
Cardiotocografia –
Encaminhada a outra sala, inicia-se o monitoramento fetal. Uma cinta
com dois receptores é amarrada à barriga: um mede a força das contrações
e o outro, os batimentos cardíacos do bebê. Este monitoramento é feito
com a gestante deitada de costas na maca, por cerca de 30 minutos.
Enquanto alguns hospitais e profissionais ainda mantém o aparelho
“plugado” à mulher durante todo o trabalho de parto, outros o fazem
ausculta intermitente, ou seja, monitorando o bebê de maneira não
contínua, de acordo com as evidências científicas mais recentes.
Jejum – Na maioria das instituições hospitalares, a mulher em trabalho de parto é totalmente privada de líquidos e alimentos. O objetivo seria prevenir a aspiração do conteúdo gástrico na eventualidade de anestesia geral. Tal prática tem efeitos nocivos para mãe e bebê e deve ser avaliada caso a caso.
Jejum – Na maioria das instituições hospitalares, a mulher em trabalho de parto é totalmente privada de líquidos e alimentos. O objetivo seria prevenir a aspiração do conteúdo gástrico na eventualidade de anestesia geral. Tal prática tem efeitos nocivos para mãe e bebê e deve ser avaliada caso a caso.
Enema
– Eventualmente aplica-se uma lavagem intestinal. Ao contrário do que
se acredita, a lavagem não apresenta efeitos sobre a infecção neonatal e
puerperal, além de não afetar positivamente a dinâmica uterina ou o
tempo de duração do trabalho de parto.
Tricotomia – Trata-se da raspagem dos pelos pubianos com o objetivo de reduzir infecções. Não há evidências científicas suficientes que recomende esta prática de forma rotineira no pré-parto e não é aconselhada pela Organização Mundial da Saúde.
Indução de parto – Algumas vezes o parto não progride de maneira satisfatória e pode ter que ser induzido artificialmente. Pressão alta materna ou pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, incompatibilidade do fator Rh, sangramentos ou placenta com qualidade comprometida são situações que justificariam uma indução, a ser realizada através de:
Medicamentos – Instalação
de soro com medicação intravenosa contendo ocitocina (hormônio
responsável pela contração uterina) sintética ou ainda, aplicação local
(no colo do útero) de medicamento com o objetivo de acelerar as
contrações.
Ruptura artificial de membranas – Quando
a membrana que protege o bebê não se rompe antes do trabalho de parto,
pode ser rompida artificialmente pelo obstetra com o objetivo de
acelerar o parto e encorajar o início das contrações.
Analgesia peridural – É
um método farmacológico de controle da dor que se baseia na
administração de substâncias analgésicas por via peridural (espaço entre
a dura-máter e a parede do canal raquidiano na medula espinhal)
amplamente empregada para aliviar as dores do parto. Pode diminuir o
ritmo do trabalho de parto, e a mulher pode ter até três vezes mais
chances de receber doses de ocitocina sintética para corrigir a
dinâmica.
Episiotomia –
Corte no períneo (musculatura de sustentação do assoalho pélvico) entre
a vagina e o ânus, aumentando a abertura do canal de parto. Apesar de
ser amplamente praticado no Brasil, também não há evidências que
corroborem com qualquer indicação de episiotomia.
Fórceps ou vacum extrator –
São ferramentas utilizadas para apressar a expulsão do bebê no segundo
estágio do trabalho de parto, quando a cabeça do bebê para de descer no
canal de parto. São utilizados em casos de estresse materno ou fetal
(alteração dos batimentos cardíacos).
Cirurgia cesariana –
A cesariana é uma cirurgia de grande porte, em que bebê e placenta são
retirados do útero através de uma incisão abdominal. Há dois tipos de
cirurgia cesariana:
Emergencial – Pode ser necessária em decorrência de complicações do trabalho de parto que possam comprometer a saúde de mãe e bebê.
Eletiva –
São as cirurgias agendadas com antecedência, devido a agravos à saúde
materno-fetal, como as gestações de alto risco, ou por escolha pessoal
da gestante.
Agora que você já sabe quais são as principais intervenções médicas realizadas durante o parto, discuta-as com o seu médico,
quem terá grande influência sobre a equipe do hospital, solicitando a
quebra de rotinas desnecessárias, através da carta de internação. As vantagens e riscos de cada procedimento devem ser avaliados pela parturiente, seu parceiro e equipe médica.
Fonte: Raquel Oliva - COMPARTO