Relato de Gestação e Nascimento de Maria Clara!

19.7.12 1 Comments A+ a-

Estou me acostumando a ler e reler relatos de parto, acordei louca para escrever e escrever... dividir minha experiência com outros, pois muitos relatos me ajudaram de alguma forma!
Resolvi começar pelo “Relato da Gestação” da minha Maria... sempre quis ter uma filha chamada Maria (não sei bem o porque!).
Eu tinha 22 anos e em meados de Junho/2005 descobri que estava grávida. Eu namorava a 2 anos e meio, não estava casada, estava começando a faculdade... um susto! Pouco tempo depois que descobri, tive um descolamento de placenta... pequeno, mas pra marinheira de primeira viagem, qualquer marola é tsunami, certo? Minha família de cara não apoiou, mas dei sorte de gerar a primeiro neta, primeira sobrinha, primeira várias outras coisas e parentescos, o que rapidamente amoleceu o coração de todos!

Eu nem sequer tinha renda, o que na verdade não foi um problema, pois os avós disputavam quase à tapas para ver quem daria mais coisinhas e mimos pra netinha! Na verdade, eu percebi tempos depois que o fato de eu não ter feito esforço pra ter as coisas dela acabou me deixando quase que à mercê da minha própria gestação, mas isso eu só perceberia tempos depois!

Durante a minha gestação, meu namorado na época, J. V., nunca me deixou faltar nada, carinho e atenção comigo sempre que estava próximo, e normalmente estava. Nosso relacionamento era complicado, os dois muito ciumentos, mas aquela gestação traria paz, pra mim, pra ele, e pro nosso relacionamento. Não posso me queixar.
Quando descobrimos que era uma menina, a escolha do nome Mª Clara, se deu porque ela significava uma luz nas nossas vidas, clara, bem clara, iluminando nossos caminhos... e assim vai ser sempre!
Quanto ao “parto” em si, meu Relato não será tão animador, talvez até duro, passados 5 anos e com a maturidade que tenho hoje, chega a me doer pensar no fim da gestação da minha Maria... ela não merecia aquilo... eu também não!
Bem, com 30 semanas e 1 dia de gestação, dia 29 de Novembro/2005, quase 7 meses, senti minha barriga endurecer no fim da tarde... do nada... parecia um côco! Me apavorei e falei pra minha mãe, que com sua experiência de duas cesáreas foi taxativa: “-Vamos para o Hospital!”. E assim foi! Liguei pra J. V. que me encontrou já no Real Hospital Português.
Chegando lá liguei pra minha médica, Dra F., uma cesarista convicta, mas eu não sabia disso. Na verdade sequer sabia que existia uma luta tão ferrenha sendo travada por partos normais no país. Ela era minha médica, e se ela estava dizendo, deveria saber o que estava fazendo, assim pensava eu. Bom, ela me mandou mudar de Hospital, não sei bem o porque, e fui transferida de ambulância para o Hospital Santa Joana... aí começou o carnaval, eu naquela ambulância histérica só porque minha barriga ficou dura, já comecei a não gostar!
Chegando no H.S.J., me avaliaram, plantonista fez toque, mediu pressão, me botou no soro e informou tudo a minha médica... fiquei internada, eu que achava que ia no Hospital e voltava a tempo de ver TV e dormir antes da meia noite!


Depois que botaram o tal soro foi que a coisa pegou, se eu tinha dores antes, agora eu nem sei mais o que eram, eu gemia, urrava de dor, nunca soube o que tinha naquele sorinho. Eu passeava naquele Hospital de cadeira de rodas pra cima e pra baixo fazendo mil exames e todos os resultados me diziam que eu estava bem, ao menos os que pude ter em minhas mãos, apenas o resultado do exame de urina nunca me entregaram, e foi nessa tecla que minha médica bateu com quase 72 horas de internação e dores fortes (sempre com o tal soro na veia)... infecção urinária! Eu não tinha dor nenhuma ao ir ao banheiro, mas médico é médico, devia saber o que estava fazendo (quanta ingenuidade). Eu sei que continuava sentindo dor e foi aí, no auge da minha dor, com 3 dias numa maca e nessa situação que minha médica sabe-tudo me solta a seguinte frase: “-Não vou fazer uma cesárea em você agora mãe porque seu bebê é muito pequeno e as chances dele conseguir sair dessa são mínimas!” Pânico no meu quarto! Chorei, chorei... mas eu tava disposta a suportar a dor que fosse, só queria minha filha bem! Dra F. foi embora do Hospital lá pelas 21h... as 22h, quando trocaram o plantão do Hospital, me vem o plantonista novo, novo no plantão e na idade também, ele era o mesmo plantonista que havia feito o toque em mim no dia que fui internada. Me olhou lá e disse: “-Mãezinha, ainda está aqui? Vamos resolver isso e vai ser agora!” Deu um sorriso sarcástico e saiu do meu quarto. Fiquei sem entender... até 10 minutos depois me chegar uma enfermeira com bata, touca e tudo cirúrgico, fazer a raspagem dos pelos na minha barriga e em 5 minutinhos eu tava no Centro Obstétrico!
J.V., que estava tão atônito quanto eu, me olhava estranho, mas ao menos foi comigo para o parto! Anestesia, dormência, muitos tubinhos no meu corpo, bracinhos amarrados e eu estava pronta, me fizeram uma cesárea, com o maldito paninho azul sem me deixar ver minha filha nascer, com meus braços amarrados para eu não tocá-la (alguém soltou meu braço direito e toquei nela por 2 segundos eu acho), e quando tiraram ela de cima de mim, uma enfermeira muito “simpática disse: “-Vamos dormir um pouco mãezinha?”. E assim foi... contagem regressiva... 3... 2... não ouvi ela dizer o 1!

Minha filha nasceu às 23:28h, acordei do “soninho” umas 23:50... lembro que o pano azul ainda estava lá, mas minha filha não, meu namorado não, só tinham duas pessoas do outro lado do pano, uma me dando pontos e outra lavando minha perna que estava lavada de sangue, só sei disso porque ela levantou minha perna bem alto pra lavar, e eu, nos delírios da anestesia ainda, vi minha perna e achei bem longe do meu corpo!
Não precisei ir para a tal “Sala de Recuperação” e fui direto pro quarto. Chegando lá, a Dra F. lá estava, conversando com minha mãe e minha sogra na época, falavam algo sobre tumor, nódulo, não entendi bem! Não sabia se falavam de mim, da minha filha, aliás, eu nem sabia onde estava minha filha, se estava bem, sequer sabia se estava viva, nem meu namorado estava no quarto naquela hora... eu estava meio tonta da anestesia, mas consegui perguntar por Maria Clara e me disseram que ela estava bem, só que como era prematura, estava na UTI neonatal... botaram mais alguma coisa no meu soro e só acordei o outro dia... umas 7h da matina.
Eu tinha bastante leite e cedinho uma moça da parte de lactação do Hospital veio me “ordenhar”. Eu ainda estava lenta e lembro que achei engraçado ela dizer que ia me ordenhar, me senti uma vaquinha. Aí começou meu segundo problemão, perguntei se eu podia ajudar a dar o leite a minha filha, ir lá, conhecê-la ao menos. Resposta: “-Não!”
Como assim? Não? É minha filha e eu nem a conheço direito, só a vi por uns 8 segundos e eu estava dopada... mas ninguém além de mim estava preocupado com isso, de mim apenas o leite, eu não precisava ir lá! Só consegui vê-la por volta das 17h... tive alta 2 dias depois e ela continuou no Hospital por mais 26 dias... 20 deles na UTI, os outros 6 dias eu me internei junto com ela pra “aprender” como cuidar dela... nossa Ceia de Natal foi ali mesmo, no Hospital! Tivemos alta dia 30 de Dezembro... por “bom comportamento”, pois o pediatra de antemão, só ia liberar ela pra ir pra casa quando chegasse a 2kg, e nos liberou com ela pesando 1,840kg. Durante a internação dela no Hospital íamos, eu e o pai dela, duas ou três vezes ao dia lá, pra ordenhar, pra ficar um pouco com ela... eu estava ainda cicatrizando a cesárea e não podia parar em casa, não tinha tempo pra nada! Sem dizer nada a ninguém, entrei numa Depressão Pós Parto profunda que confesso, até hoje ainda cicatriza... aos poucos.
Apesar de tudo isso, minha filha, minha Maria, é exatamente como imaginávamos... uma LUZ... Clara como a luz do Sol! Linda, radiante, cheia de vida, sorriso e imaginação!
Amo-a e agradeço por tudo o que ela simplesmente é!
E peço perdão à minha pequena por não ter tido forças, informação ou outra coisa qualquer para dar a ela um início de vida mais digno e feliz!
Te admiro muito minha filha, minha Maria Clara, Minha LUZ!

1 comentários:

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Katinha
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24 de julho de 2012 às 20:53 delete

Nossa Mila! Sempre te ouvi falar que o parto de Maria Clara foi traumatizante, que ela tinha sido arrancada de ti... Mas não imaginava que vocês duas tinha passado por tudo isso! Quando a depressão pós parto muito menos... Mais apesar de tudo isso da ai Clarinha... LINDONA! Trazendo felicidade a todos que a rodeiam... Uma verdadeira LUZ!

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